sábado, 6 de abril de 2013

Baú de Recordações


     Em meus não tão longos 21 anos de existência, posso dizer que tenho um arquivo com mais memórias do que jamais poderei viver, mesmo que atinja os 500 anos. Histórias do que já vivi, se confundem com breves relatos da vida alheia. Com espiadas por cima do livro enquanto dois amigos conversam no trem, lutando para manter-se em pé.
     O fato de trabalhar com o público, já me fez ter que ampliar meu “Baú de recordações que nunca vivi” ao menos umas cinco vezes. Compartilhar da vida dos outros se torna muito fácil quando nos percebemos como o único ouvido que está aberto. A companhia de que alguém muitas vezes precisa.
     Os idosos com quem converso diariamente, muitas vezes por trás de uma pele enrugada e um jeito carrancudo, escondem segredos de tantos anos, que podem ser a resposta para melhorar o nosso dia. A idade muitas vezes pode maltratar, mas é o único modo de nos fazer gozar das nossas mais raras lembranças e de uma vasta experiência, que garanto, jamais será adquirida, senão com o tempo!
     O mais triste é pensar que tantas vezes, a necessidade da pessoa se abrir a um desconhecido, ocorre justamente por ser a única forma que muitos veem de se transmitir através das gerações: por meio de palavras.
     Certo dia uma senhora começou a me contar sobre todos os objetos que ela guardava em casa: a roupinha de saída de maternidade de cada uma das quatro filhas, seus vestidinhos de batismo, um casaco de lã da adolescência de sua mãe, o jogo de cama da noite de núpcias de sua avó e todas as lembrancinhas de aniversários de seus seis netos. São muitas gerações e recordações juntas, são muitos objetos, são vários baús físicos e emocionais. “É muita tralha junta” (palavras dela).
     Mas toda essa “tralha” afetiva, é o que nos move em direção ao futuro sem nos deixar esquecer do passado. Toda essa bagunça compõe o que somos, de onde viemos e o que almejamos. Espero um dia poder ter um “Baú” recheado de memórias do que fui, do que sou, do que serei e do que jamais vivi, do que apenas escutei numa fila de banco.
     Afinal, sempre escutei que somos o que queremos ser, e, nesse momento eu só quero ser aquela velhinha irritada que quer ser atendida logo pra não perder a reprise de “O Profeta”.

Nenhum comentário:

Postar um comentário