Novela é um assunto tão interessante de se falar, porque ao
mesmo tempo em que tem os enredos mais fora da realidade que alguém consegue escrever,
acaba se tornando parte da realidade de seu espectador.
Está no sangue do brasileiro assistir novela, assim como
está no sangue de quem vê novela fazer fofoca sobre ela. É quase uma lógica
obrigatória. Digo isso, porque quando nos deparamos com um enredo fantasioso
onde a vilã é tão má quanto a madrasta da Branca de Neve e a mocinha é tão
tonta quanto os filmes dos Três Patetas, nos apegamos aos personagens como se
fossem parentes próximos, o que nos dá o direito de falar da vida deles.
Dia desses me peguei perguntando para minha avó: “como foi o
casamento da Valdirene?” só faltou eu reclamar que não tinha sido convidada. No
casamento anterior da mesma novela ficaram apenas três alunos da minha sala
para a aula. Todo o resto foi pra casa ver a noiva morrer – eu fazia parte dos
que se grudaram na televisão.
E por falar em
fofoca, assim como falamos sobre a filha da vizinha que casou e não chamou
ninguém da rua, ou o vizinho da casa 408 que faz visitas vespertinas à vizinha
da frente enquanto os respectivos cônjuges saem para trabalhar, comentamos a
novela com a proximidade de tia e prima. Seja isso carência ou falta do que
fazer, as novelas entretêm, emocionam e têm péssimos enredos desde os tempos do
rádio.
Bom, a crônica está acabando, a novela está para começar e se
der tempo eu volto mais tarde para contar o que aconteceu e comentar esse
grande fenômeno que é conversar com objetos inanimados acreditando que isso irá
mudar o rumo da história. Ok, fim do texto, a novela começou, a mocinha vai
beijar o vilão e eu tenho que correr pra sala e gritar com a TV pra impedir.