Quando criança eu adorava ir à praia com meus avós nas
férias. Como de costume, eles me levavam no início do mês e meus pais iam na
semana das festas de final de ano, ficavam poucos dias e logo iam embora.
Naquele ano mamãe e papai tiraram férias em dezembro e
viajamos apenas nós três. Para minha total falta de sorte, o resultado disso
foi uma chuva histórica que acabou com todos os meus planos de fazer castelos
de areia, brincar no mar e sair para pescar como eu fazia com vovô.
Naquele ano aprendi a jogar baralho, vi televisão até
cansar e, com extrema relutância do meu pai apavorado com tudo o que existe no
universo, fui ao circo pela primeira vez.
Ao que me recordo, aquele foi um dos últimos, senão o
último, ano em que animais estiveram presentes em grandes circos. Naquela época
eu não tinha consciência do que aquilo significava, mas não muito tempo antes
havia saído uma notícia em vários jornais que um elefante havia pisado em uma
criança em um circo mal vigiado no interior. Imagine-se então, o desespero do
meu pai quando lhe pedi para visitar as jaulas antes do espetáculo.
Eu estava ansiosa para poder ver todas aquelas criaturas
gigantescas que nem em sonho eu imaginava ver tão de perto.
Meu pai com todo o cuidado possível me carregava
apavorado e me deixava o mais distante que podia daqueles que ele chamava de
monstruosidades. Eu, sem entender muito seu desespero, olhava deslumbrada para
o gigantesco elefante, para os macacos que eu achava horrorosos (e ainda acho)
e para aquele monte de cachorros coloridos que eu não entendia porque eram
azuis e cor-de-rosa enquanto o meu era preto e ponto!
Horas depois começaria o espetáculo. Minha mãe que ficara
em casa para se arrumar, foi ao nosso encontro para que entrássemos cedo e
escolhêssemos os melhores lugares possíveis. Picadeiro lotado e trupe em cena,
meus olhos não fechavam nem para piscar. Eu sorria com os números simples,
gargalhava com os palhaços e me impressionava com tudo o que aqueles
super-homens e mulheres podiam fazer. Não podia imaginar o quão difícil era a
vida de cada um daqueles que levavam o sorriso aos seus espectadores.
Quando o espetáculo chegou ao fim, meus olhos já não
tinham mais forças para permanecer abertos e por isso dormi antes mesmo dos
agradecimentos. Confesso que até hoje tenho certas dúvidas de coisas das quais
me lembro daquele dia. Um dia desses, meu pai relembrou essa data. Não entrou
em detalhes o que vivemos, mas o que narrei dormindo aos meus amigos dos sonhos
enquanto ele me carregava nos braços.
Dezesseis anos depois dessa data, hoje visitei o circo
pela segunda vez. Por mais que a inocência tenha se perdido com o tempo, o
brilho de ver os super-homens e mulheres novamente reavivou as cenas daquele
dia aos cinco anos de idade. A sensação de presenciar novamente tudo aquilo que
encheu meus olhos de alegria por uma noite foi revivida e voltei a ser criança.
O picadeiro iluminado por fora, o frio na barriga dos
números mais difíceis, as risadas com os palhaços, as palmas, o orgulho de cada
um dos artistas. Dessa vez, como na outra, não pisquei nenhuma vez, mas pude
sair contando as histórias do circo acordada, sem precisar esperar até o dia
seguinte.
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